segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um verdadeiro conhecimento do Verdadeiro Deus, Parte 1

Um verdadeiro conhecimento do Verdadeiro Deus, Parte 1

(Sermão Pr. John MacArthur – Traduzido e adaptado)

Lembram-se no Êxodo, quando fizeram o bezerro de ouro? Você sabia que quando os israelitas fizeram o bezerro de ouro, esta era a sua representação do Senhor?

Atos 17 versículo 16, o apóstolo Paulo chegou em sua segunda viagem missionária na grande cidade de Atenas.

http://3.bp.blogspot.com/_YwJeN9VKYiU/S9clzYlcAHI/AAAAAAAAABE/Totf3GzqzI4/s1600/image.jpgAts 17:16  Enquanto Paulo os esperava em Atenas(... que é Silas e Timóteo, que estavam indo se juntar a ele ...), revoltava-se nele o seu espírito, vendo a cidade cheia de ídolos.

Ats 17:17  Argumentava, portanto, na sinagoga com os judeus e os gregos devotos, e na praça todos os dias com os que se encontravam ali.

Ats 17:18  Ora, alguns filósofos epicureus e estóicos disputavam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este tagarela? E outros: Parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição.

Ats 17:19  E, tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?

Ats 17:20  Pois tu nos trazes aos ouvidos coisas estranhas; portanto queremos saber o que vem a ser isto.

Ats 17:21  Ora, todos os atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam, de nenhuma outra coisa se ocupavam senão de contar ou de ouvir a última novidade.

Ats 17:22  Então Paulo, estando de pé no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos;

Ats 17:23  Porque, passando eu e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio.

Ats 17:24  O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;

Ats 17:25  nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas;

Ats 17:26  e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação;

Ats 17:27  para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós;

Ats 17:28  porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração.

Ats 17:29  Sendo nós, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem.

Ats 17:30  Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam;

Ats 17:31  porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

Ats 17:32  Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez.

Ats 17:33  Assim Paulo saiu do meio deles.

Ats 17:34  Todavia, alguns homens aderiram a ele, e creram, entre os quais Dionísio, o areopagita, e uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros.

Paulo, na cidade de Atenas enfrenta a realidade do deus desconhecido. Ele diz: “Esse, pois, que vós adorais sem o conhecer. Com todos os deuses que vocês têm aqui, vocês não tem nada, mas ídolos, vocês não tem nada, mas os falsos deuses. O único Deus verdadeiro é desconhecido para vocês. Toda sua adoração, então, é engano, toda a sua adoração é uma expressão da ignorância, toda a adoração é, então, inútil e sem propósito e realiza absolutamente nada espiritualmente, porque vocês não conhecem o verdadeiro Deus”. Eles estão no escuro sobre o verdadeiro Deus.

Pareceu-me que nós vivemos em uma nação que também poderia ser definida dessa maneira:  cheia de noções sobre Deus, mas o Deus verdadeiro é desconhecido. Temos teologias populares. Temos deuses populares que, infelizmente, muito diferentes do verdadeiro Deus. Embora as pessoas falem sobre Deus e nós afirmamos a existência de Deus, nós supostamente confiamos nEle, (até em nossas moedas), afirmamos a Sua existência. Ele, porém, é desconhecido para nós. Adoramos um deus desconhecido.

Na verdade, como os gregos, nós colocamos um ídolo no lugar do verdadeiro Deus e ignorantemente o adoramos. Suponho que uma pergunta pode ser feita: “Deus criou o homem e revelou-se, ou o homem criou Deus e revelou-se a si mesmo?” Eu acho que este seria o verdadeiro deus popular dos nossos dias e mesmo da chamada igreja. Deus tornou-se uma espécie de projeção de nossas próprias mentes, de nossa própria vontade, da nossa própria tolerância. Criamos um Deus que é confortável para nós. O Salmo 50:21 diz: “pensavas que na verdade eu era como tu?”. Bem, na verdade, este é o caso.

Há todos os tipos de mal-entendidos sobre Deus. Existe a ideia errada de que Deus não é para ser honrado em tudo. Ele deve ser honrado em algumas coisas, mas não em tudo. Ele não tem lugar na praça pública. Ele não deve ser louvado nas escolas. Sua Palavra não deve ser lida em qualquer lugar público. Seu nome deverá ser retirado de qualquer instalação do governo. Nós não devemos ter qualquer tipo de reconhecimento nacional de Deus como um dia de oração ou uma reunião de oração ou qualquer outro evento conduzido por um cristão que afirma o Deus das Escrituras. Mas por outro lado só acreditamos em um deus que é para ser honrado apenas ligeiramente e apenas ocasionalmente, e apenas quando mantido dentro de certos limites. Este deus não é um deus que é digno de honra suprema. Este não é um deus que é merecedor de toda honra. Este deus não tem o que é necessário para tal honra.

Ele também não tem poder. Nós estamos confortáveis com um deus que não exerce o poder absoluto. Nós queremos um deus que tem algum poder limitado, e este é o deus que é popular hoje em dia, não só em nossa nação, mas na igreja. Ele tem boas ideias e estamos contentes por isso. Ele tem intenções nobres, e se esforça para vê-las realizadas. Há coisas que ele gostaria de fazer, mas ele não consegue. E Satanás impede a realização de tudo que deus quer fazer. Deus quer trazer ao mundo a bondade, felicidade e alegria para ser a maneira que todos gostariam que fosse, mas Satanás frustra todos estes propósitos divinos de deus e traz problemas e guerras e conflitos e desastres e crime e destruição. Satanás esta ocupado em frustrar os desejos de deus. Pobre deus, ele simplesmente não tem o poder de realmente fazer o que ele gostaria.

E também falta o conhecimento ao deus popular. Ele tem desejos definidos para o seu reino. Ele tem propósitos definidos que ele gostaria de realizar. Mas ele é muito limitado na capacidade de realizá-los, porque ele está sujeito ao mesmo problema que nós, que é este: Ele não sabe o que vai acontecer. Esta é a nova visão de Deus, chamada "A teologia da abertura de Deus", que Deus não conhece o futuro. É assim que você elimina a responsabilidade de Deus, dizendo que ele não sabe o que vai acontecer. Deus não sabe tudo porque isso ainda não aconteceu, e não pode ser conhecido. Deus é assim como nós, Ele não sabe o que vai acontecer até que realmente aconteça. E isso torna muito difícil planejar.

Assim, deus tem todas estas grandes intenções, todos esses grandes objetivos, todos esses grandes propósitos, mas é severamente limitado, pois ele não pode saber o futuro, não tem conhecimento de eventos que ainda não ocorreram. Ele só pode coordenar essas coisas depois de elas acontecerem. É uma espécie de operação limpeza. Ele não tem mais controle sobre o futuro do que você, ou eu. E ele está sempre reagindo apenas conforme a nossa forma de agir. O futuro não é conhecido e, por conseguinte, o futuro não é planejado por ele. Na verdade, o futuro não é conhecido por ninguém e é apenas previsto como ele se desdobra por milhões de ações de um contingente de vários milhões de pessoas que agem. Portanto, deus não é o único digno de honra suprema. Ele não é aquele que é supremamente poderoso e absoluto. Ele não é o único que tem todo o conhecimento de todas as coisas passadas, presentes todas as coisas futuras e como eles se encaixam em conjunto. Não podemos deixar que ele fosse esse tipo de deus, porque então Eee seria o responsável pelo que acontece.

Ele também não tem sabedoria, pois ouvimos que ele ama a todos incondicionalmente, quer que todos sejam salvos, mas não conseguiu descobrir um plano para que isso aconteça. Ele quer que todos sejam curados. E, francamente, se ele queria que todos fossem curados, não foi muito sábio ao fazer depender que a cura fosse mediante a fé do povo. Se ele realmente queria que todos fossem curados, porque ele não cura a todos? Parece que um plano insensato, se é que realmente quer isto.

Ele também quer que todos sejam ricos. Ele quer que todos sejam saudáveis e ele quer que todos sejam bem sucedidos e prósperos, mas ele realmente criou um plano bastante inepto para obter esse feito, porque ele fez que depende de nós. É um plano pobre que reflete uma falta de sabedoria.

E o deus popular carece de santidade. Ele realmente não acredita que o salário do pecado é a morte eterna do inferno e a punição eterna. Ele ama a todos incondicionalmente. Ele trata a todos com compaixão incondicional. E ele nunca iria enviar boas pessoas para o inferno. Assim, seu senso de justiça é limitado. O senso de justiça é limitado e, portanto, sua santidade é limitada.

E ele não tem autoridade também. Ele não é realmente soberano sobre todas as pessoas, toda a criação, e todos os eventos e todas as experiências. Ele gostaria de ser. Ele alega estar na Bíblia, mas é realmente apenas palavra vazia. Sim, quando ele diz que está no controle de tudo , todos os seus propósitos serão mantidos e ninguém pode impedi-los, isso é só palavra vazia de sua parte. Ele realmente não está no controle. Qualquer autoridade que ele tenha, quaisquer prerrogativas que exerça, qualquer escolha que faça, quaisquer direitos que ele possua, estão ao final, subordinados à autoridade e os direitos e as escolhas e as prerrogativas das pessoas. E, a propósito, se ele tem algo de bom para oferecer às suas criaturas, ele deve oferecê-lo igualmente a todos, isso é justo. E para ser realmente justo, ele tem que oferecê-lo igualmente a todos e a decisão final tem que ser de cada indivíduo. Isto é que é justo.

Assim, o homem exerce a autoridade final. Deus tem menos liberdade do que o homem porque deus não pode escolher. Ele só pode oferecer escolhas ao homem.

Este é o Deus da Bíblia que é perfeito em poder, perfeito em glória, perfeito em conhecimento, perfeito em sabedoria, perfeito em santidade, exercendo perfeita autoridade?

Não, o deus que eu descrevi para você é um ídolo. O deus que eu descrevi para você é um deus falso. O deus que eu descrevi para você é um objeto de blasfêmia, existe não apenas no pensamento das pessoas de fora da igreja, mas no pensamento das pessoas de dentro da chamada igreja. Fizeram um ídolo. Eles criaram um deus que não existe.

Posso ilustrar isso de muitas maneiras, mas uma que está na minha mente e domina os meus pensamentos, é a ideia de que o deus que nós sentimos confortáveis não é realmente único. Ele não tem exclusividade. Ele realmente não é muito diferente do que nós. De fato, a verdadeira questão é que ele compartilhou de sua própria natureza com a gente. Nós somos todos pequenos deuses. Todos nós temos um pedaço da natureza divina.

Agora que você já ouviu isso. Isso é panteísmo, certo? Que Deus está em tudo e em todos. Isto encontrou um caminho para entrar no “cristianismo evangélico”. Eu vou te mostrar como.

---------------------------FIM DA 1ª. Parte--------------------------

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Reportagem da Resvista Época - Os novos evangélicos.


Reportagem muito comentada neste final de semana.


Ricardo Alexandre, na Época

Inspirado no cristianismo primitivo e conectado à internet, um grupo crescente de religiosos critica a corrupção neopentecostal e tenta recriar o protestantismo à brasileira





Rani Rosique não é apóstolo, bispo, presbítero nem pastor. É apenas um cirurgião geral de 49 anos em Ariquemes, cidade de 80 mil habitantes do interior de Rondônia. No alpendre da casa de uma amiga professora, ele se prepara para falar. Cercado por conhecidos, vizinhos e parentes da anfitriã, por 15 minutos Rosique conversa sobre o salmo primeiro ("Bem-aventu-rado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios"). Depois, o grupo de umas 15 pessoas ora pela última vez – como já havia orado e cantado por cerca de meia hora antes – e então parte para o tradicional chá com bolachas, regado a conversa animada e íntima.

Desde que se converteu ao cristianismo evangélico, durante uma aula de inglês em Goiânia em 1969, Rosique pratica sua fé assim, em pequenos grupos de oração, comunhão e

estudo da Bíblia. Com o passar do tempo, esses grupos cresceram e se multiplicaram. Hoje, são 262 espalhados por Ariquemes, reunindo cerca de 2.500 pessoas, organizadas por 11 supervisores", Rosique entre eles. São professores, médicos, enfermeiros, pecuaristas, nutricionistas, com uma única característica comum: são crentes mais experientes.

Apesar de jamais ter participado de uma igreja nos moldes tradicionais, Rosique é hoje uma referência entre líderes religiosos de todo o Brasil, mesmo os mais tradicionais. Recebe convites para falar sobre sua visão descomplicada de comunidade cristã, vindos de igrejas que há 20 anos não lhe responderiam um telefonema. Ele pode ser visto como um "símbolo" do período de transição que a igreja evangélica brasileira atravessa. Um tempo em que ritos, doutrinas, tradições, dogmas, jargões e hierarquias estão sob profundo processo de revisão, apontando para uma relação com o Divino muito diferente daquela divulgada nos horários pagos da TV.

Estima-se que haja cerca de 46 milhões de evangélicos no Brasil. Seu crescimento foi seis vezes maior do que a população total desde 1960, quando havia menos de 3 milhões de fiéis espalhados principalmente entre as igrejas conhecidas como históricas (batistas, luteranos,

presbiterianos e metodistas). Na década de 1960, a hegemonia passou para as mãos dos pentecostais, que davam ênfase em curas e milagres nos cultos de igrejas como Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e O Brasil Para Cristo. A grande explosão numérica evangélica deu-se na década de 1980, com o surgimento das denominações neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer. Elas tiraram do pentecostalismo a rigidez de costumes e a ele adicionaram a "teologia da prosperidade" (leia o quadro abaixo). Há quem aposte que até 2020 metade dos brasileiros professará à fé evangélica.


SÍMBOLO O cirurgião Irani Rosique (sentado, de camisa branca, com a Bíblia aberta no colo). Sem cargo de clérigo, ele mobiliza 2.500 pessoas no interior de Rondônia










Dentro do próprio meio, levantam-se vozes críticas a esse crescimento. Segundo elas, esse modelo de igreja, que prospera em meio a acusações de evasão de divisas, tráfico de armas e formação de quadrilha, tem sido mais influenciado pela sociedade de consumo que pelos ensinamentos da Bíblia. "O movimento evangélico está visceralmente em colapso", afirma o pastor Ricardo Gondim, da igreja Betesda, autor de livros como Eu creio, mas tenho dúvidas:a graça de Deus e nossas frágeis certezas (Editora Ultimato). "Estamos vivendo um momento de mudança de paradigmas. Ainda não temos as respostas, mas as inquietações estão postas, talvez para ser respondidas somente no futuro."

Nos Estados Unidos, a reinvenção da igreja evangélica está em curso há tempos. A igreja Willow Creek de Chicago trabalhava sob o mote de ser "uma igreja para quem não gosta de igreja" desde o início dos anos 1970. Em São Paulo, 20 anos depois, o pastor Ed René Kivitz adotou o lema para sua Igreja Batista, no bairro da Água Branca – e a ele adicionou o complemento "e uma igreja para pessoas de quem a igreja não costuma gostar". Kivitz é atualmente um dos mais discutidos pensadores do movimento protestante no Brasil e um dos principais críticos da "religiosidade institucionalizada". Durante seu pronunciamento num evento para líderes religiosos no final de 2009, Kivitz afirmou: "Esta igreja que está na mídia está morrendo pela boca, então que morra. Meu compromisso é com a multidão agonizante, e não com esta igreja evangélica brasileira."

Essa espécie de "nova reforma protestante" não é um movimento coordenado ou orquestrado por alguma liderança central. Ela é resultado de manifestações espontâneas, que mantêm a diversidade entre as várias diferenças teológicas, culturais e denominacionais de seus ideólogos. Mas alguns pontos são comuns. O maior deles é a busca pelo papel reservado à religião cristã no mundo atual. Um desafio não muito diferente do que se impõe a bancos, escolas, sistemas políticos e todas as instituições que vieram da modernidade com a credibilidade arranhada. "As instituições estão todas sub judice", diz o teólogo Ricardo Quadros Gouveia, professor da Universidade Mackenzie de São Paulo e pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro do Limão. "Ninguém tem dúvida de que espiritualidade é uma coisa boa ou que educação é uma coisa boa, mas as instituições que as representam estão sob suspeita."

Uma das saídas propostas por esses pensadores é despir tanto quanto possível os ensinamentos cristãos de todo aparato institucional. Segundo eles, a igreja protestante (ao menos sua face mais espalhafatosa e conhecida) chegou ao novo milênio tão encharcada de dogmas, tradicionalismos, corrupção e misticismo quanto a Igreja Católica que Martinho Lutero tentou reformar no século XVI. "Acabamos nos perdendo no linguajar 'evangeliquês', no moralismo, no formalismo, e deixamos de oferecer respostas para nossa sociedade", afirma o pastor Miguel Uchôa, da Paróquia Anglicana Espírito Santo, em Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife. "É difícil para qualquer pessoa esclarecida conviver com tanto formalismo e tão pouco conteúdo."

imagem5.JPG

"É lisonjeador saber que nos consideram 'pensadores'. Mas o grande problema dos evangélicos brasileiros não é de inteligência. É de ética e honestidade" RICARDO AGRESTE, pastor da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera, em Campinas, São Paulo

Uchôa lidera a maior comunidade anglicana da América Latina. Seu trabalho é reconhecido por toda a cúpula da denominação como um dos mais dinâmicos do país. Ele é um dos grandes entusiastas do movimento inglês Fresh Expressions, cujo mote é "uma igreja mutante para um mundo mutante". Seu trabalho é orientar grupos cristãos que se reúnem em cafés, museus, praias

ou pistas de skate. De maneira genérica, esses grupos são chamados de "igreja emergente" desde o final da década de 1990. "O importante não é a forma", afirma Uchôa. "É buscar a essência da espiritualidade cristã, que acabou diluída ao longo dos anos, porque as formas e hierarquias passaram a ser usadas para manipular pessoas. É contra isso que estamos nos levantando."

No meio dessa busca pela essência da fé cristã, muitas das práticas e discursos que eram característica dos evangélicos começaram a ser considerados dispensáveis. Às vezes, até condenáveis. Em Campinas, no interior de São Paulo, ocorre uma das experiências mais interessantes de recriação de estruturas entre as denominações históricas. A Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera não tem um templo. Seus frequentadores se reúnem em dois salões anexos a grandes condomínios da cidade e em casas ao longo da semana. Aboliram a entrega de dízimos e as ofertas da liturgia. Os interessados em contribuir devem procurar a secretaria e fazê-lo por depósito bancário – e esperar em casa um relatório de gastos. Os sermões são chamados, apropriadamente, de "palestras" e são ministrados com recursos multimídias por um palestrante sentado em um banquinho atrás de um MacBook. A meditação bíblica dominical é comumente ilustrada por uma crônica de Luis Fernando Verissimo ou uma música de Chico Buarque de Hollanda.

imagem6.JPG

"O que importa é buscar a essência do cristianismo, que acabou diluída porque as formas e hierarquias passaram a ser usadas para manipular pessoas" MIGUEL UCHÔA, pastor Anglicano (à esquerda na foto, ao lado do bispo Robinson Cavalcanti, da Diocese do Recife)

"Os seminários teológicos formam ministros para um Brasil rural em que os trabalhos são de carteira assinada, as famílias são papai, mamãe, filhinhos e os pastores são pessoas respeitadas", diz Ricardo Agreste, pastor da Comunidade e autor dos livros Igreja? Tô fora e A jornada (ambos lançados pela Editora Socep). "O risco disso é passar a vida oferecendo respostas a perguntas que ninguém mais nos faz. Há muita gente séria, claro, dizendo verdades bíblicas, mas presas a um formato ultrapassado."

Outro ponto em comum entre esses questionadores é o rompimento declarado com a face mais visível dos protestantes brasileiros: os neopentecostais. "É lisonjeador saber que atraímos gente com formação universitária e que nos consideram 'pensadores'", afirma Ricardo Agreste. "O grande problema dos evangélicos brasileiros não é de inteligência, é de ética e honestidade." Segundo ele, a velha discussão doutrinária foi substituída por outra. "Não é mais uma questão de pensar de formas diferentes a espiritualidade cristã", diz. "Trata-se de entender que há gente usando vocabulário e elementos de prática cristã para ganhar dinheiro e manipular pessoas."

Esse rompimento da cordialidade entre os evangélicos históricos e os neopentecostais veio a público na forma de livros e artigos. A jornalista (evangélica) Marília Camargo César publicou no final de 2008 o livro Feridos em nome de Deus (Editora Mundo Cristão), sobre fiéis decepcionados com a religião por causa de abusos de pastores. O teólogo Augustus Nicodemus Lopes, chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, publicou O que estão fazendo com a Igreja: ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro (Mundo Cristão), retrato desolador de uma geração cindida entre o liberalismo teológico, os truques de marketing, o culto à personalidade e o esquerdismo político. Em um recente artigo, o presidente do Centro Apologético Cristão de Pesquisas, João Flavio Martinez, definiu como "macumba para evangélico" as práticas místicas da Igreja Universal do Reino de Deus, como banho de descarrego e sabonete com extrato de arruda.

Tais críticas, até pouco tempo atrás, ficavam restritas aos bastidores teológicos e às discussões internas nas igrejas. Livros mais antigos – como Supercrentes, Evangélicos em crise, Como ser cristão sem ser religioso e O evangelho maltrapilho (todos da editora Mundo Cristão) – eram experiências isoladas, às vezes recebidos pelos fiéis como desagregadores. "Parece que a sociedade se fartou de tanto escândalo e passou a dar ouvidos a quem já levantava essas questões há tempos", diz Mark Carpenter, diretor-geral da Mundo Cristão.

imagem7.JPG

"As pessoas não querem mais dogmas, elas querem autenticidade. Minha postura é, juntos, buscarmos algumas respostas satisfatórias a nossas inquietações" ED RENÉ KIVITZ, pastor da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo

O pastor Kivitz – que publicou pela Mundo Cristão seus livros Outra espiritualidade e O livro mais mal-humorado da Bíblia – distingue essa crítica interna daquela feita pela mídia tradicional aos neopentecostais "A mídia trata os evangélicos como um fenômeno social e cultural. Para fazer uma crítica assim, basta ter um pouco de bom-senso. Essa crítica o (programa) CQC já faz, porque essa igreja é mesmo um escracho", diz ele. "Eu faço uma crítica diferente, visceral, passional, porque eu sou evangélico. E não sou isso que está na televisão, nas páginas policiais dos jornais. A gente fica sem dormir, a gente sofre e chora esse fenômeno religioso que pretende ser rotulado de cristianismo."

A necessidade de se distinguir dos neopentecostais também levou essas igrejas a reconsiderar uma série de práticas e até seu vocabulário. Pastores e "leigos" passam a ocupar o mesmo nível hierárquico, e não há espaço para "ungidos" em especial. Grandes e imponentes catedrais e "cultos shows" dão lugar a reuniões informais, em pequenos grupos, nas casas, onde os líderes podem ser questionados, e as relações são mais próximas. O vocabulário herdado da teologia triunfalista do Antigo Testamento (vitória, vingança, peleja, guerra, maldição) é reconsiderado. Para superar o desgaste dos termos, algumas igrejas preferem ser chamadas de "comunidades", os cultos são anunciados como "reuniões" ou "celebrações" e até a palavra "evangélico" tem sido preterida em favor de "cristão" – o termo mais radical. Nem todo mundo concorda, evidentemente. "Eles (os neopentecostais) é que não deveriam ser chamados de evangélicos", afirma o bispo anglicano Robinson Cavalcanti, da Diocese do Recife. "Eles é que não têm laços históricos, teológicos ou éticos com os evangélicos."

Um dos maiores estudiosos do fenômeno evangélico no Brasil, o sociólogo Ricardo Mariano (PUC-RS), vê como natural o embate entre neopentecostais e as lideranças de igrejas históricas. Ele lembra que, desde o final da década de 1980, quando o neopentecostalismo ganhou força no Brasil, os líderes das igrejas históricas se levantaram para desqualificar o movimento. "O problema é que não há nenhum órgão que regule ou fale em nome de todos os evangélicos, então ninguém tem autoridade para dizer o que é uma legítima igreja evangélica", afirma.

Procurado por ÉPOCA, Geraldo Tenuta, o Bispo Gê, presidente nacional da Igreja Renascer em Cristo, preferiu não entrar em discussões. "Jesus nos ensinou a não irmos contra aqueles que pregam o evangelho, a despeito de suas atitudes", diz ele. "Desde o início, éramos acusados disto ou daquilo, primeiro porque admitíamos rock no altar, depois porque não tínhamos usos e costumes. Isso não nos preocupa. O que não é de Deus vai desaparecer, e não será por obra dos julgamentos." A Igreja Universal do Reino de Deus – que, na terceira semana de julho, anunciou a construção de uma "réplica do Templo de Salomão" em São Paulo, com "pedras trazidas de Israel" e "maior do que a Catedral da Sé" – também foi procurada por ÉPOCA para comentar os movimentos emergentes e as críticas dirigidas à igreja. Por meio de sua assessoria, o bispo Edir Macedo enviou um e-mail com as palavras: "Sem resposta".

O sociólogo Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil (Editora Loyola), oferece uma explicação pragmática para a ruptura proposta pelo novo discurso evangélico. Ateu, ele afirma que o objetivo é a busca por uma certa elite intelectual, um público mais bem informado, universitário, mais culto que os telespectadores que enchem as igrejas populares. "Vivemos uma época em que o paciente pesquisa na internet antes de ir ao consultório e é capaz de discutir com o médico, questionar o professor", diz. "Num ambiente assim, não tem como o pastor proibir nada. Ele joga para a consciência do fiel."

A maior parte da movimentação crítica no meio evangélico acontece nas grandes cidades. O próprio pastor Kivitz afirma que "talvez não agisse da mesma forma se estivesse servindo alguma comunidade em um rincão do interior" e que o diálogo livre entre púlpito e auditório passa, necessariamente, por uma identificação cultural. "As pessoas não querem dogmas, elas querem honestidade", diz ele. "As dúvidas delas são as minhas dúvidas. Minha postura é, juntos, buscarmos respostas satisfatórias a nossas inquietações."

Por isso mesmo, Ricardo Mariano não vê comparação entre o apelo das novas igrejas protestantes e das neopentecostais. "O destino desses líderes será 'pescar no aquário', atraindo insatisfeitos vindos de outras igrejas, ou continuar falando para meia dúzia de pessoas", diz ele. De acordo com o presbiteriano Ricardo Gouveia, "não há, ou não deveria haver, preocupação mercadológica" entre as igrejas históricas. "Não se trata de um produto a oferecer, que precise ocupar espaço no mercado", diz ele. "Nossa preocupação é simplesmente anunciar o evangelho, e não tentar 'melhorá-lo' ou torná-lo mais interessante ou vendável."

O advento da internet foi fundamental para pastores, seminaristas, músicos, líderes religiosos e leigos decidirem criar seus próprios sites, portais, comunidades e blogs. Um vídeo transmitido pela Igreja Universal em Portugal divulgando o Contrato da fé – um "documento", "autenticado" pelos pastores, prometendo ao fiel a possibilidade de se "associar com Deus e ter de Deus os benefícios" – propagou-se pela rede, angariando toda sorte de comentários. Outro vídeo, em que o pregador americano Moris Cerullo, no programa do pastor Silas Malafaia, prometia uma "unção financeira dos últimos dias" em troca de quem "semear" um "compromisso" de R$ 900 também bombou na rede. Uma cópia da sentença do juiz federal Fausto De Sanctis condenando os líderes da Renascer Estevam e Sônia Hernandes por evasão de divisas circulou no final de 2009. De Sanctis afirmava que o casal "não se lastreia na preservação de valores de ética ou correção, apesar de professarem o evangelho". "Vergonha alheia em doses quase insuportáveis" foi o comentário mais ameno entre os internautas.

Sites como Pavablog, Veshame Gospel, Irmãos.com, Púlpito Cristão, Caiofabio ou Cristianismo Criativo fazem circular vídeos, palestras e sermões e debatem doutrinas e notícias com alto nível de ousadia e autocrítica. De um grupo de blogueiros paulistanos, surgiu a ideia da Marcha pela ética, um protesto que ocorre há dois anos dentro da Marcha para Jesus (evento organizado pela Renascer). Vestidos de preto, jovens carregam faixas com textos bíblicos e frases como "O $how tem que parar" e "Jesus não está aqui, ele está nas favelas".

A maior parte desses blogueiros trafega entre assuntos tão diversos como teologia, política, televisão, cinema e música popular. O trânsito entre o "secular" e o "sagrado" é uma das características mais fortes desses novos evangélicos. "A espiritualidade cristã sempre teve a missão de resgatar a pessoa e fazê-la interagir e transformar a sociedade", diz Ricardo Agreste. "Rompemos o ostracismo da igreja histórica tradicional, entramos em diálogo com a cultura e com os ícones e pensamento dessa cultura e estamos refletindo sobre tudo isso."

Em São Paulo, o capelão Valter Ravara criou o Instituto Gênesis 1.28, uma organização que ministra cursos de conscientização ambiental em igrejas, escolas e centros comunitários. "É a proposta de Jesus, materializar o amor ao próximo no dia a dia", afirma Ravara. "O homem sem Deus joga papel no chão? O cristão não deve jogar." Ravara publicou em 2008 a Bíblia verde, com laminação biodegradável, papel de reflorestamento e encarte com textos sobre sustentabilidade.

imagem8.JPG

"O homem sem Deus joga papel no chão? O cristão não deve jogar. É a proposta de Jesus, materializar o amor ao próximo no dia a dia" VALTER RAVARA, "ecocapelão", criador do Instituto Gênesis 1.28 e da Bíblia verde

A então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, escreveu o prefácio da Bíblia verde. Sua candidatura à Presidência da República angariou simpatia de blogueiros e tuiteiros, mas não o apoio formal da Assembleia de Deus, denominação a que ela pertence. A separação entre política e religião pregada por Marina é vista como um marco da nova inserção social evangélica. O vereador paulistano e evangélico Carlos Bezerra Jr. afirma que o dever do político cristão é "expressar o Reino de Deus" dentro da política. "É o oposto do que fazem as bancadas evangélicas no Congresso, que existem para conseguir facilidades para sua denominação e sustentar impérios eclesiásticos", diz ele.

imagem9.JPG

DA WEB ÀS RUAS – Blogueiros que organizam a Marcha pela ética, um movimento de protesto incrustado dentro da Marcha para Jesus, promovida pela Renascer

O raciocínio antissectário se espalhou para a música. Nomes como Palavrantiga, Crombie, Tanlan, Eduardo Mano, Helvio Sodré e Lucas Souza se definem apenas como "música feita por cristãos", não mais como "gospel". Eles rompem os limites entre os mercados evangélico e pop. O antissectarismo torna os evangélicos mais sensíveis a ações sociais, das parcerias com ONGs até uma comunidade funcionando em plena Cracolândia, no centro de São Paulo. "No fundo, nossa proposta é a mesma dos reformadores", diz o presbiteriano Ricardo Gouveia. "É perceber o cristianismo como algo feito para viver na vida cotidiana, no nosso trabalho, na nossa cidadania, no nosso comportamento ético, e não dentro das quatro paredes de um templo."

A teologia chama de "cristocêntrico" o movimento empreendido por esses crentes que tentam tirar o cristianismo das mãos da estrutura da igreja – visão conhecida como "eclesiocêntrica" – e devolvê-lo para a imaterialidade das coisas do espírito. É uma versão brasileiramente mais modesta do que a Igreja Católica viveu nos tempos da Reforma Protestante. Desta vez, porém, dirigida para a própria igreja protestante. Depois de tantos desvios, vozes internas levantaram-se para propor uma nova forma de enxergar o mundo. E, como efeito, de ser enxergadas por ele. Nas palavras do pastor Kivitz: "Marx e Freud nos convenceram de que, se alguém tem fé, só pode ser um estúpido infantil que espera que um Papai do Céu possa lhe suprir as carências. Mas hoje gostaríamos de dizer que o cristianismo tem, sim, espaço para contribuir com a construção de uma alternativa para a civilização que está aí. Uma sociedade que todo mundo espera, não apenas aqueles que buscam uma experiência religiosa".

sábado, 14 de agosto de 2010

SE DEUS É BOM, PORQUE EXISTE O MAL ?



Na aula da semana passada, na classe dos jovens, o Heitor fez uma daquelas perguntas que o professor tem que rebolar para responder: Se Deus fez todas as coisas, porque existe o mal? Se ele é bom, teria criado o mal? No início da minha aula usei um vídeo em que Albert Einstein teria debatido sobre essa questão com seu professor. (veja o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=mseqa0tAGIE). No vídeo e o pequeno Einstein diz que Deus não criou o mal, mas que é resultado de uma vida sem Deus.

Andei lendo alguns artigos sobre isso. Muitos deles dizem que por conta do "livre arbítrio", o homem pode escolher entre seguir o seu caminho natural ou optar por Deus. Ocorre que nós presbiterianos temos como princípio acreditar na Predestinação. Que todo homem foi predestinado para as boas obras, para que tenham uma vida ao lado de Deus. Então por que alguns escolhem seguir um rumo diferente de Deus?

De fato existem algumas coisas que nossa mente limitada não poderá responder ou sequer responder. Deus é espírito, vive em um universo diferente que o nosso. Eu e você vivemos neste mundo material, das "coisas", do que pode se pode ser explicado. Creio que Deus é de fato o criador de todas as coisas. Ele em sua essência é amor e bem. O mal é a ausência do bem.

Deus nunca age para fazer o mal às pessoas, embora permita que passemos por situações maléficas (vamos assim dizer) para que nossa fé se firme mais ainda. Eu e você sim podemos andar e ter nossas ações determinadas para o bem ou para o mal. Depende das nossas escolhas. Eu escolhi viver e para e com Deus e você?

Aqui um artigo para reflexão de Antônio Mesquita Galvão... interessante e nos dá uma maior compreensão sobre o assunto.


Onde Estava Deus?


Em minha tese de doutorado em Teologia Moral, a respeito da misteriosa existência do mal ("Deus é bom. Então por que existe o mal?"), deparei-me com essa questão, indagando onde estaria o Criador quando atrocidades e acidentes da natureza ocorriam. Primeiro foi no "terremoto de Lisboa" (retratado no "Cândido", de Voltaire), depois nas tragédias de Auschwitz, onde milhões de judeus foram eliminados.
A filósofa Susan Neiman detecta com maestria que a empreitada da modernidade atinge seu impasse no Holocausto. Em sua obra "O mal no pensamento moderno" (Ed. Difel, 2002), Neiman afirma que se a humanidade perdeu a fé na natureza, em Lisboa, é provável que tenha perdido a fé em si mesma em Auschwitz, que foi conceitualmente devastador porque revelou uma possibilidade que se esperava não ver: seres humanos comportando-se como demônios.
Todas as discussões filosóficas sobre o assunto insistem no ponto de que as condições na Europa apontavam além da barbárie das câmaras de gás, mas para a falência ética da civilização. A questão "Deus onde estás?" parece um clamor desesperado de quem perdeu a fé. Mas não.
Recentemente o papa Bento XVI foi à Polônia e, corajosamente fez questão de visitar Auschwitz. Nessa visita, chocado com o que ali ocorreu, ele fez um desabado: "Onde estava Deus que permitiu tudo isto?". O local é tão tétrico que os visitantes chegam a sentir o cheiro de coisa queimada, mais de sessenta anos após o fechamento dos fornos crematórios. As reações da comunidade internacional mostram que o episódio não foi superado e que as feridas ainda estão abertas. Em termos de ética e valores a última palavra sobre o holocausto ainda não foi dita.
Sintomaticamente, alguns segmentos da mídia e dos grupos de ateus e de certas sociedades secretas atribuíram à fala de Ratzinger um vacilo na fé, pois um papa não poderia - segundo eles - duvidar da presença de Deus. Outros entenderam tratar-se de uma explosão emocionada de um ser humano, idoso, diante do mal, que o homem livre pode cometer. É terrível a liberdade humana. Sartre chegou a afirmar que "o homem é condenado à liberdade". Não se trata, com certeza, de vacilos de fé, mas é como que uma explosão de indignação, incontida diante da manifestação da maldade humana.
O próprio Jesus, na cruz, diante da barbárie cometida por seus inimigos, repetindo um salmo, questionou: "Meu pai, por que me abandonaste?". Seria Jesus um homem sem fé? Ou, na impotência humana diante da violência, questionou os corações que se fecharam a Deus?
Em 1944, num campo de concentração, em represália por algumas fugas, os nazistas enforcaram um menino judeu de oito anos. Enquanto a criança se debatia nos esgares da morte, alguém perguntou: "Onde está Deus?". Alguém que assistia aquela cruel execução apontou para a vítima e falou: "Está ali, pendurado naquela corda!". O fato inconteste da presença de Deus indica que mesmo naqueles momentos de aparente fracasso, quando parece que o mal venceu, a presença de Deus ao lado de quem sofre é uma realidade palpável e inconteste. Mesmo na dor, no silêncio e num improvável abandono, ele nunca de se fazer presente. É preciso enxergá-lo. E buscá-lo.
Mesmo as pessoas que se dedicam ao estudo e à pesquisa da teologia e filosofia, e aí se inclui o homem Joseph Ratzinger, apenas conseguem tatear, tangenciando perifericamente a questão do mal, que é um mistério. Deus não criou o mal, mas respeita a liberdade de quem o pratica. Isto é um mistério que foge à compreensão, mesmo dos especialistas. Já que não podemos penetrar no âmago do mistério, cabe-nos evitá-lo e combatê-lo.


POR QUE EXISTE O MAL?


A maioria das formulações ontológicas, aquelas que se referem diretamente ao ser, apontam o mal como conseqüência da liberdade humana mal conduzida. Tanto é assim que J. P. Sartre († 1980) chega a afirmar que o homem nasce "condenado à liberdade", tamanho o risco que essa virtude desencadeia sobre o comportamento humano. A morte de tantas vítimas que diariamente bordam de sangue os jornais e os noticiários da tevê nos revelam a extensão do drama de uma sociedade colocada à mercê do mal. O móvel dos crimes e suas motivações a gente sabe. Os criminosos assaltam e matam porque têm liberdade para fazê-lo. Não vou entrar no perfil sociológico do delinqüente, para saber se ele é vítima ou não de um modelo social caótico. Vou reportar-me às idéias de Sartre, no fato de qualquer pessoa, inclusive o bandido, agir na contramão da ética, porque é livre para agir assim. É muito primário, num momento desses, perquirir estas razões. Quero ir mais adiante e dividir questões e assertivas com os leitores. Porque o bandido mata, ou assume esse risco ao praticar uma ação danosa, todos nós sabemos. O que foge ao nosso entendimento são os porquês referentes à morte do inocente. Em minha tese de Doutorado em Teologia Moral (apresentada em Paris, em 2005) cujo título é "Deus é bom. Então por que existe o mal?", eu me reporto a esse sofrimento do inocente, a partir da parábola bíblica do pobre Jó, passando pelo terremoto de Lisboa, em 1755, pelos extermínios nos campos do nazismo, culminando com o estupro seguido de morte de uma menina, na periferia de Porto Alegre. Em todos esses eventos, escutou-se o brado das pessoas, clamando "por que, meu Deus?". O clamor que se eleva em cima do sofrimento das vítimas inocentes fica sempre sem resposta. Sabemos que o mal não vem de Deus, que não pertence à sua vontade a ocorrência do sofrimento e das penas. O mal, desde as teorias teodicéias de Santo Agostinho († 430) e de G. W. Leibniz († 1716) é definido como uma "ausência do bem". No decorrer da história do mundo, os atos maléficos e maldosos têm sido atribuídos não a Deus, mas à liberdade humana mal direcionada. Aí entra a questão do "livre arbítrio". No que se refere ao sofrimento do inocente, as causas são mais profundas, e apontam para forças tenebrosas que, pelo duro golpe nas famílias e na sociedade, visam um desequilíbrio e fomentar um sentimento de revolta e descrença capaz de fazer vacilar os mais fortes.
Em minha tese de doutorado, cujo tema foi "Deus é bom. Então porque existe o mal?" eu me debruço sobre este assunto, afirmando que o mal subsiste no mundo por conta da liberdade humana e pela ação das potestades malignas que induzem a esse tipo de comportamento. Deus não evita o mal, mas dá meios de proteção a quem clama por ele.
O fato é que o mal não é criação de Deus. O ser humano também não é o inventor do mal, mas comete o pecado sob a inspiração do mal que se encontra nas estruturas. No mal que existe desde o princípio está a fonte de todo o desajuste.

* Doutor em Teologia Moral

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

OS NÚMEROS DOS HOMENS X OS NÚMEROS DE DEUS



Claudio Alvarenga
Coordenador da Escola Dominical da 1 IPI de Bauru    


     Desde o ano passado, em conjunto com o Isaar, comecei a pesquisar os números da nossa igreja e mais precisamente os da Escola Dominical. Não sou especialista neste tipo de matéria, mas resolvi buscar mais informação para nosso crescimento como igreja. Também no ano passado na Assembleia Geral tivemos o conhecimento de alguns números não muito agradáveis.
Confesso que quanto mais olhava para estes números mais preocupado e triste ficava. Cada vez mais crescia o sentimento de culpa e de impotência.

     Na semana passada uma noticia na TV apresentou o projeto de construção de uma mega igreja em S. Paulo para mais de 10.000 membros. Por coincidência eu estava lendo um livro do Pr. John MacArthur que é pastor de uma igreja deste porte nos EUA. Neste livro ele fala sobre a busca frenética da criação de mega igrejas nos EUA e o consequente afastamento do Evangelho de Jesus. O crescimento passou a ser mais importante que a doutrina.
Ao final do livro, depois de um quadro bem pessimista, ele apresenta a grande mensagem que conforta e traz alegria aos nossos corações: “...edificarei a minha igreja” Mt 16.18

     Esta é a chave da passagem bíblica que Jesus fala com os discípulos e está se dirigindo a Pedro. Para entender um pouco mais precisamos conhecer o contexto desta fala. Jesus e os discípulos estavam no extremo norte de Israel, próximo à fronteira com o Líbano. Era como se estivessem no exílio. A multidão que antes seguia a Jesus, agora O abandonou. Os lideres religiosos e políticos procuravam mata-Lo. Este era o momento mais critico para discípulos que estavam desanimados e com a esperança minguando.

    Foi neste momento que Jesus declarou “Edificarei a minha igreja”. Nada estava pedido. Deus esta no controle de tudo e plano original ainda esta em andamento.

     A igreja é a preciosa possessão de Jesus, “a qual Ele comprou como seu próprio sangue” At 20.28.
Qual a nossa preocupação então? Somente esta: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” Mc 16.15.  E a nossa certeza é que Jesus sempre estará edificando a Sua igreja.
Com isto em mente, acho que devemos melhorar, aprimorar e especializar nas coisas que realmente cabem a nós:  ide e pregai.
Conclusão: Somente Deus dá crescimento à igreja. “Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” At 2.47

Deus nos abençoe e acrescente novos salvos a cada dia em nossa igreja. Amém!