sábado, 14 de agosto de 2010

SE DEUS É BOM, PORQUE EXISTE O MAL ?



Na aula da semana passada, na classe dos jovens, o Heitor fez uma daquelas perguntas que o professor tem que rebolar para responder: Se Deus fez todas as coisas, porque existe o mal? Se ele é bom, teria criado o mal? No início da minha aula usei um vídeo em que Albert Einstein teria debatido sobre essa questão com seu professor. (veja o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=mseqa0tAGIE). No vídeo e o pequeno Einstein diz que Deus não criou o mal, mas que é resultado de uma vida sem Deus.

Andei lendo alguns artigos sobre isso. Muitos deles dizem que por conta do "livre arbítrio", o homem pode escolher entre seguir o seu caminho natural ou optar por Deus. Ocorre que nós presbiterianos temos como princípio acreditar na Predestinação. Que todo homem foi predestinado para as boas obras, para que tenham uma vida ao lado de Deus. Então por que alguns escolhem seguir um rumo diferente de Deus?

De fato existem algumas coisas que nossa mente limitada não poderá responder ou sequer responder. Deus é espírito, vive em um universo diferente que o nosso. Eu e você vivemos neste mundo material, das "coisas", do que pode se pode ser explicado. Creio que Deus é de fato o criador de todas as coisas. Ele em sua essência é amor e bem. O mal é a ausência do bem.

Deus nunca age para fazer o mal às pessoas, embora permita que passemos por situações maléficas (vamos assim dizer) para que nossa fé se firme mais ainda. Eu e você sim podemos andar e ter nossas ações determinadas para o bem ou para o mal. Depende das nossas escolhas. Eu escolhi viver e para e com Deus e você?

Aqui um artigo para reflexão de Antônio Mesquita Galvão... interessante e nos dá uma maior compreensão sobre o assunto.


Onde Estava Deus?


Em minha tese de doutorado em Teologia Moral, a respeito da misteriosa existência do mal ("Deus é bom. Então por que existe o mal?"), deparei-me com essa questão, indagando onde estaria o Criador quando atrocidades e acidentes da natureza ocorriam. Primeiro foi no "terremoto de Lisboa" (retratado no "Cândido", de Voltaire), depois nas tragédias de Auschwitz, onde milhões de judeus foram eliminados.
A filósofa Susan Neiman detecta com maestria que a empreitada da modernidade atinge seu impasse no Holocausto. Em sua obra "O mal no pensamento moderno" (Ed. Difel, 2002), Neiman afirma que se a humanidade perdeu a fé na natureza, em Lisboa, é provável que tenha perdido a fé em si mesma em Auschwitz, que foi conceitualmente devastador porque revelou uma possibilidade que se esperava não ver: seres humanos comportando-se como demônios.
Todas as discussões filosóficas sobre o assunto insistem no ponto de que as condições na Europa apontavam além da barbárie das câmaras de gás, mas para a falência ética da civilização. A questão "Deus onde estás?" parece um clamor desesperado de quem perdeu a fé. Mas não.
Recentemente o papa Bento XVI foi à Polônia e, corajosamente fez questão de visitar Auschwitz. Nessa visita, chocado com o que ali ocorreu, ele fez um desabado: "Onde estava Deus que permitiu tudo isto?". O local é tão tétrico que os visitantes chegam a sentir o cheiro de coisa queimada, mais de sessenta anos após o fechamento dos fornos crematórios. As reações da comunidade internacional mostram que o episódio não foi superado e que as feridas ainda estão abertas. Em termos de ética e valores a última palavra sobre o holocausto ainda não foi dita.
Sintomaticamente, alguns segmentos da mídia e dos grupos de ateus e de certas sociedades secretas atribuíram à fala de Ratzinger um vacilo na fé, pois um papa não poderia - segundo eles - duvidar da presença de Deus. Outros entenderam tratar-se de uma explosão emocionada de um ser humano, idoso, diante do mal, que o homem livre pode cometer. É terrível a liberdade humana. Sartre chegou a afirmar que "o homem é condenado à liberdade". Não se trata, com certeza, de vacilos de fé, mas é como que uma explosão de indignação, incontida diante da manifestação da maldade humana.
O próprio Jesus, na cruz, diante da barbárie cometida por seus inimigos, repetindo um salmo, questionou: "Meu pai, por que me abandonaste?". Seria Jesus um homem sem fé? Ou, na impotência humana diante da violência, questionou os corações que se fecharam a Deus?
Em 1944, num campo de concentração, em represália por algumas fugas, os nazistas enforcaram um menino judeu de oito anos. Enquanto a criança se debatia nos esgares da morte, alguém perguntou: "Onde está Deus?". Alguém que assistia aquela cruel execução apontou para a vítima e falou: "Está ali, pendurado naquela corda!". O fato inconteste da presença de Deus indica que mesmo naqueles momentos de aparente fracasso, quando parece que o mal venceu, a presença de Deus ao lado de quem sofre é uma realidade palpável e inconteste. Mesmo na dor, no silêncio e num improvável abandono, ele nunca de se fazer presente. É preciso enxergá-lo. E buscá-lo.
Mesmo as pessoas que se dedicam ao estudo e à pesquisa da teologia e filosofia, e aí se inclui o homem Joseph Ratzinger, apenas conseguem tatear, tangenciando perifericamente a questão do mal, que é um mistério. Deus não criou o mal, mas respeita a liberdade de quem o pratica. Isto é um mistério que foge à compreensão, mesmo dos especialistas. Já que não podemos penetrar no âmago do mistério, cabe-nos evitá-lo e combatê-lo.


POR QUE EXISTE O MAL?


A maioria das formulações ontológicas, aquelas que se referem diretamente ao ser, apontam o mal como conseqüência da liberdade humana mal conduzida. Tanto é assim que J. P. Sartre († 1980) chega a afirmar que o homem nasce "condenado à liberdade", tamanho o risco que essa virtude desencadeia sobre o comportamento humano. A morte de tantas vítimas que diariamente bordam de sangue os jornais e os noticiários da tevê nos revelam a extensão do drama de uma sociedade colocada à mercê do mal. O móvel dos crimes e suas motivações a gente sabe. Os criminosos assaltam e matam porque têm liberdade para fazê-lo. Não vou entrar no perfil sociológico do delinqüente, para saber se ele é vítima ou não de um modelo social caótico. Vou reportar-me às idéias de Sartre, no fato de qualquer pessoa, inclusive o bandido, agir na contramão da ética, porque é livre para agir assim. É muito primário, num momento desses, perquirir estas razões. Quero ir mais adiante e dividir questões e assertivas com os leitores. Porque o bandido mata, ou assume esse risco ao praticar uma ação danosa, todos nós sabemos. O que foge ao nosso entendimento são os porquês referentes à morte do inocente. Em minha tese de Doutorado em Teologia Moral (apresentada em Paris, em 2005) cujo título é "Deus é bom. Então por que existe o mal?", eu me reporto a esse sofrimento do inocente, a partir da parábola bíblica do pobre Jó, passando pelo terremoto de Lisboa, em 1755, pelos extermínios nos campos do nazismo, culminando com o estupro seguido de morte de uma menina, na periferia de Porto Alegre. Em todos esses eventos, escutou-se o brado das pessoas, clamando "por que, meu Deus?". O clamor que se eleva em cima do sofrimento das vítimas inocentes fica sempre sem resposta. Sabemos que o mal não vem de Deus, que não pertence à sua vontade a ocorrência do sofrimento e das penas. O mal, desde as teorias teodicéias de Santo Agostinho († 430) e de G. W. Leibniz († 1716) é definido como uma "ausência do bem". No decorrer da história do mundo, os atos maléficos e maldosos têm sido atribuídos não a Deus, mas à liberdade humana mal direcionada. Aí entra a questão do "livre arbítrio". No que se refere ao sofrimento do inocente, as causas são mais profundas, e apontam para forças tenebrosas que, pelo duro golpe nas famílias e na sociedade, visam um desequilíbrio e fomentar um sentimento de revolta e descrença capaz de fazer vacilar os mais fortes.
Em minha tese de doutorado, cujo tema foi "Deus é bom. Então porque existe o mal?" eu me debruço sobre este assunto, afirmando que o mal subsiste no mundo por conta da liberdade humana e pela ação das potestades malignas que induzem a esse tipo de comportamento. Deus não evita o mal, mas dá meios de proteção a quem clama por ele.
O fato é que o mal não é criação de Deus. O ser humano também não é o inventor do mal, mas comete o pecado sob a inspiração do mal que se encontra nas estruturas. No mal que existe desde o princípio está a fonte de todo o desajuste.

* Doutor em Teologia Moral

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